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Governança que dá certo: O caso Cimed e a arte de crescer em família
Rafael Küster

A Cimed, uma das maiores farmacêuticas do Brasil, é frequentemente apontada como caso exemplar de empresa familiar que superou os desafios típicos da sucessão empresarial, aliando tradição, inovação e governança corporativa robusta.
- Estrutura Societária e Familiar
Fundada em 1977 por João de Castro Marques, a empresa é hoje gerida pela segunda geração da família, com João Adibe Marques (CEO) e Karla Marques Felmanas (vice-presidente). A estrutura societária é fechada, com o controle acionário concentrado na família fundadora, o que exige, por outro lado, governança bem estruturada para evitar personalismos e conflitos.
A empresa já envolve a terceira geração, que está sendo inserida gradualmente em áreas específicas da operação com formação técnica e envolvimento progressivo, sem apadrinhamento. Essa abordagem é típica de famílias empresárias que desejam perenidade com meritocracia.
- Governança Corporativa: Prevenção de Conflitos e Perenidade
A Cimed adotou mecanismos profissionais de governança que favorecem a separação entre propriedade, família e gestão - um ponto crucial para evitar conflitos familiares e garantir decisões estratégicas alinhadas com os interesses da empresa.
Os principais pilares da sua governança são:
a) Conselho de Administração com membros independentes:
O presidente do Conselho é Nicola Calicchio, ex-líder da McKinsey na América Latina. A presença de conselheiros independentes contribui para o equilíbrio de poder, evita decisões centralizadas em membros da família e promove accountability. Isso também mitiga riscos de conflitos emocionais típicos de empresas familiares.
b) Participação da família com critérios objetivos:
Filhos e sobrinhos da segunda geração ocupam cargos estratégicos, mas foram preparados previamente, com formação externa e experiência prévia no mercado, o que evita a “síndrome do herdeiro” e estimula um ambiente de responsabilidade.
c) Cultura empresarial transparente e baseada em performance:
A Cimed adota uma cultura de gestão transparente, voltada a resultados, com indicadores claros de desempenho e feedback contínuo, independentemente de laços familiares. Isso cria um ambiente de confiança e baixa tolerância a privilégios mão merecidos.
d) Comunicação e marketing como elementos de coesão
O uso estratégico das redes sociais por João Adibe, além de reforçar o posicionamento institucional, reflete o propósito, os valores da família e da marca, promovendo alinhamento interno e orgulho organizacional, outro fator que suaviza disputas internas e fortalece o sentimento de missão compartilhada.
- Um Caso de Sucessão com Governança Integrada
A trajetória da Cimed mostra como é possível conciliar os valores familiares com uma estrutura empresarial moderna e profissionalizada. Sua governança é um modelo de:
- Preparo sucessório planejado
- Separação clara entre família, gestão e propriedade
- Valorização de conselheiros independentes
- Cultura organizacional focada em resultado e meritocracia
Assim, a Cimed se consolida como um dos grandes cases brasileiros de transição bem-sucedida entre gerações, com perenidade construída sobre bases sólidas de governança e gestão de conflitos.