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A Estrutura por Trás da Performance: O Papel da Governança e da Sustentabilidade na Longevidade das Empresas Familiares

Rafael Küster

A Estrutura por Trás da Performance: O Papel da Governança e da Sustentabilidade na Longevidade das Empresas Familiares

 

Empresas familiares são um dos motores da economia mundial, mas sua continuidade ao longo das gerações ainda é uma exceção. De acordo com o Global Family Business Report 2025, publicado pela KPMG em parceria com o STEP Project Global Consortium, apenas 32% das empresas familiares analisadas são consideradas de alta performance. Dentre essas, 67% contam com conselhos de administração formalizados e 70% adotam práticas sustentáveis de forma estruturada.

 

Os dados são contundentes: governança e sustentabilidade não são apenas boas intenções, mas fatores concretos de desempenho superior e perenidade. O desafio está em aplicar esses conceitos de maneira estratégica, crítica e conectada à realidade da empresa e da família empresária e não como ferramentas decorativas.

 

1. Conselhos Estruturados: Forma e Conteúdo Importam

 

O simples fato de um conselho existir não garante benefício algum. Há conselhos que se tornaram espaços burocráticos, usados apenas para validar decisões já tomadas pela gestão. Outros são simbólicos, criados apenas para demonstrar "boas práticas" em apresentações institucionais.

 

Por outro lado, conselhos efetivamente estruturados atuam como alavancas de alinhamento, planejamento e contenção de conflitos familiares. Empresas familiares de alta performance costumam ter:

 

  • Clareza sobre o papel de cada órgão (Conselho de Administração, Conselho Consultivo, Conselho de Família);
  • Composição qualificada, que combina membros da família, gestores e conselheiros independentes;
  • Processos formais de deliberação e acompanhamento das decisões estratégicas;
  • Interação transparente com a gestão, sem confusão entre propriedade e administração.

 

É nesse tipo de estrutura que surgem decisões que equilibram o legado familiar com a necessidade de inovação, expansão e renovação.

 

2. Sustentabilidade: Mais que ESG, uma Estratégia de Longevidade

 

Há uma banalização do termo “sustentabilidade” no mercado. Muitas empresas o adotam como selo publicitário, limitando-se a ações ambientais superficiais ou relatórios coloridos. No entanto, nas empresas familiares de alta performance, sustentabilidade é tratada como uma questão de sobrevivência do negócio e da família.

Essa visão estratégica da sustentabilidade envolve:

 

  • Gestão prudente do caixa, dos investimentos e do endividamento;
  • Construção de reputação sólida e confiável, especialmente em mercados regionais ou nichados;
  • Preparação consciente da próxima geração, com foco na formação e não apenas na sucessão formal;
  • Capacidade de resistir a ciclos econômicos adversos, mantendo valores e visão de longo prazo.

 

Diferentemente de empresas que se guiam apenas por resultados imediatos, as de alta performance decidem olhando sob o prisma da proteção patrimonial, da perpetuidade societária e da responsabilidade perante a comunidade em que atuam.

 

3. Governança e Sustentabilidade: Pilares Interdependentes

 

É ilusório tratar governança e sustentabilidade como departamentos estanques. Nas empresas familiares de alta performance, esses dois pilares se reforçam mutuamente.

 

Conselhos bem estruturados promovem decisões conscientes, sustentáveis e menos suscetíveis a pressões emocionais ou conjunturais. Por sua vez, empresas com mentalidade sustentável conferem maior legitimidade e sentido estratégico ao funcionamento dos conselhos.

 

Esse ciclo virtuoso, no entanto, exige um arcabouço jurídico-institucional sólido, como:

 

  • Acordos de sócios/acionistas com regras claras sobre voto, governança e sucessão;
  • Contratos/estatutos sociais adaptados à realidade da empresa, prevendo órgãos deliberativos, política de dividendos, entrada e saída de sócios;
  • Regimentos internos e políticas formais de governança;
  • Protocolos familiares, quando necessário, para alinhar valores e expectativas intergeracionais.

 

Falta de clareza nesses pontos é, frequentemente, a principal causa de rupturas em empresas familiares, especialmente em momentos de crise ou transição de liderança.

 

Alta Performance É Projeto

 

Empresas familiares de alta performance não são fruto da sorte ou apenas da competência de um fundador carismático. Elas são resultado de decisões conscientes, muitas vezes difíceis, de estruturar a governança e adotar uma visão de longo prazo que transcenda a geração atual.

 

A combinação entre conselhos com real poder deliberativo e uma sustentabilidade que se expressa em atitudes, não apenas em relatórios, tem se mostrado um traço comum entre negócios familiares que prosperam, inovam e permanecem relevantes com o passar do tempo.

 

date: August/2025

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